Políticos acusam vereador do RS de xenofobia após fala sobre baianos

thomas Scholze
thomas Scholze

Diversos políticos repudiaram o comentário xenofóbico feito pelo vereador Sandro Fantinel (Patriota), de Caxias do Sul , ao usar a tribuna nesta terça-feira (28) para atacar baianos e criticar a operação da Polícia Federal que resgatou mais de 200 trabalhadores que estavam em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves (RS).

Nas redes, o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), classificou a atitude do político como “nojenta” e disse que o ataque “não representa o povo do Rio Grande do Sul”. Além disso, ele afirmou que irá procurar o estado do Bahia para alinhar ações conjuntas para banir o preconceito.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), também se manifestou sobre a fala do vereador: “Eu repudio veementemente a apologia à escravidão e não permitirei que tratem nenhum nordestino ou baiano com preconceito ou rancor”.

“É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana. Determinei, portanto, a adoção de medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela sua fala”, afirmou o governador

Já o deputado estadual Leonel Radde (PT) afirmou em uma rede social que registrou um Boletim de Ocorrência contra o vereador.

“Acabamos de registrar um novo Boletim de Ocorrência contra a fala racista do vereador de Caxias do Sul/RS, Sandro Fantinel, que declarou que ‘baianos são sujos e sabem apenas tocar tambor e dançar'”, disse.

As declarações feitas pelo vereador também foram repudiadas pelos colegas da Câmara em Caxias do Sul. Lucas Caregnato (PT) disse que as palavras usadas foram de “cunho xenofóbico, preconceituoso e discriminatório”. Já Rafael Bueno (PDT) pediu que a Câmara emita uma nota “pedindo desculpas, porque a gente não comunga com qualquer prática de intolerância, seja com imigrantes ou trabalhadores que procuram nossa região para sobreviver”.

José Pascual Dambrós (PSB), presidente da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, afirmou que Fantinel “tem responsabilidade de responder por sua fala” , que, segundo ele, não reflete o pensamento da cidade ou da Câmara. No entanto, afirmou que não vai se comprometer com uma ação contra o colega. De acordo com José, uma medida contra o vereador só deve ser tomada caso haja representação no Conselho de Ética da Casa.

“A fala de um vereador não representa a cidade. O que representa a cidade é a hospitalidade e a harmonia com que recebemos gente de fora do país e do estado. Mais da metade dos vereadores veio de fora da cidade, precisamos respeitar todo o povo, inclusive temos muita gente de outros municípios, de outras regiões e até de outros países trabalhando na cidade”, avalia.

Fala xonofóbica
Na terça (27), o vereador Sandro Fantinel (Patriota) usou a tribuna da Câmara Municipal para atacar os baianos e criticar a operação da PF que resgatou 207 trabalhadores que estavam sendo explorados em Bento Gonçalves (RS).

Durante seu discurso, o parlamentar aconselhou os produtores da região a contratar mão de obra de argentinos ao invés de contratar trabalhadores da Bahia. Segundo ele, as pessoas do país vizinho “são limpos” , enquanto os baianos só sabem “viver na praia tocando tambor” .

Nos últimos dias, trabalhadores que estavam em situação análoga a escravidão foram resgatados uma operação da Polícia Rodoviária Federal em conjunto com o MTE e a Polícia Federal na cidade de Bento Gonçalves. Os profissionais – explorados em grandes vinícolas da região – eram ameaçados e até agredidos com choques e spray de pimenta pelos patrões. Segundo a polícia, dos 207 homens resgatados, 198 eram baianos com idades entre 18 e 57 anos.

Apesar das provas, o vereador acusou a mídia dar uma “exagerada” na denúncia e que a exposição do caso tem “motivos políticos” para prejudicar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no qual Fantinel é apoiador. “Como é de costume, o empresário é tratado como vilão”, lamentou.

“Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer limpeza todos os dias para os bonitos? Temos que botar em hotel 5 estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?”, indagou ele.

“Agricultores, produtores vou dar um conselho para vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima”, acrescentou, referindo-se aos baianos, que eram maioria no alojamento. O vereador ainda prometeu criar “uma linha” para contratar argentinos para o trabalho de colheita de uvas.

“Todos os empresários que têm argentinos trabalhando hoje só batem palmas. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão. Agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema”, falou Sandro em tom preconceituoso.

“Deixem de lado. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo, que é acostumado com carnaval e festa, para vocês não se incomodarem novamente”, concluiu.

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