Bolsonaro culpa logística por dificuldade contra fogo no Pantanal

thomas Scholze
thomas Scholze

O presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado, 10, que a dificuldade de acesso a regiões pantaneiras impede que o fogo que se alastra pelo Pantanal seja combatido a contento. Em uma transmissão ao vivo com uma apoiadora na cidade de Guarujá, litoral paulista, o presidente também voltou a afirmar que a Amazônia, cujas queimadas sepultaram a imagem do Brasil no exterior, não pega fogo sozinha. Bolsonaro atribuiu as críticas à sua capenga política ambiental a interesses comerciais e protecionistas de países que supostamente querem sufocar produtos brasileiros.

No primeiro semestre de 2020, o Brasil perdeu algo em torno de 38 bilhões de dólares em investimentos externos de fundos que só põem dinheiro em países que respeitem normas ambientais. Conforme mostrou VEJA, em uma carta endereçada ao vice-presidente Hamilton Mourão, representantes diplomáticos de oito países europeus afirmaram que “a tendência crescente de desflorestamento no Brasil está tornando cada vez mais difícil para empresas e investidores (da Europa) atenderem a seus critérios ambientais, sociais e de governança”.

Na live, o presidente atribuiu as dificuldades em se conter focos de incêndio no Pantanal ao fato de a região ser muito grande – maior que o somatório dos territórios de Rio de Janeiro, Sergipe, Espírito Santo e Alagoas, disse ele. “Como é que você vai combater fogo num lugar desse? Não tem via de acesso. O próprio nome diz: pantanal. Tem alguns que fazem [colocam fogo] de propósito, mas uma parte considerável é o caboclo, é o nativo. Tem fogo espontâneo também”, afirmou. Em seguida, fez referência ao mesmo discurso que já havia utilizado na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas e afirmou: “a Amazônia em si não pega fogo, é uma floresta úmida. Quanto mais pessoas reverberam isso como se eu fosse o responsável… O que interessam para eles é nos difamar e não comprar produtos nossos para comprar produtos deles”.

Em cerca de 30 minutos de conversa com uma apoiadora identificada como Alessandra Guimarães, o presidente também voltou a adotar discurso controverso sobre a pandemia de coronavírus, defendeu o uso de hidroxicloroquina em estágios iniciais de contágio como forma de evitar mortes e ele próprio disse para a mulher com quem conversava tirar a máscara de proteção recomendada por autoridades de saúde.

No início da transmissão, quando o presidente notou que Alessandra usava uma máscara estampada com uma foto dele, questionou em tom de brincadeira: “que máscara é essa?”. E ouviu como resposta: “Essa máscara é anticomunista, anti-PT, anti-PSOL”. Na sequência, Bolsonaro a orientou a tirar o equipamento de proteção. “Vou tirar porque eu quero. Não porque o presidente está mandando. Porque eu não tive Covid nem vou ter”, respondeu Alessandra.

Na conversa, o presidente mais uma vez minimizou a gravidade de determinados casos de coronavírus. “Se pegar um dia não fique preocupada. Lógico, se evita, né? Eu estou com 65 anos, não senti nada, nem uma gripezinha, zero, zero, nada, nada. A questão do vírus, o objetivo do pessoal se precaver não é dizer que não vai pegar. Quer dizer que se pegue ao longo de um tempo, essa seria a intenção, para não acumular gente em hospital”, disse o presidente, que teve coronavírus em julho depois de relatar febre e indisposição. Segundo ele, “desde o começo” defendeu que a população se preocupasse com o contágio pelo vírus. Na verdade, nos últimos meses o ex-capitão minimizou a gravidade da doença e desprezou a medicina, tecendo loas a medicamentos sem eficácia comprovada, como a hidroxicloroquina, e provocando sucessivas aglomerações.

Bolsonaro também disse que, “se dependesse dele”, escolas não teriam sido fechadas na pandemia e “ninguém teria deixado de trabalhar”. Em seguida, afirmou que se o petista Fernando Haddad tivesse saído vitorioso das eleições de 2018, o Brasil estaria a caminho do “comunismo”. O raciocínio do presidente incluiu ainda uma esdrúxula avaliação sobre a população mais carente. “Olha o que está acontecendo na Argentina. O lockdown lá está correndo solto. Se fosse o Haddad aqui, estaria em lockdown até hoje, pode ter certeza que estaria empobrecendo o país, porque o povo pobre é um povo que não tem identidade. Era o caminho para se impor o socialismo no Brasil”, disse. Ele ainda sugeriu que o auxílio emergencial de 600 reais evitou “quebra-quebra nas ruas, invasão em supermercado, fogo em ônibus” e disse que na próxima semana terá uma reunião para discutir a alta da soja, cujos preços dispararam.

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