Arautos da moralidade

thomas Scholze
thomas Scholze

Quando a defesa do respeito irrestrito ao estado de direito reúne um enorme plantel de investigados e/ou condenados, gente, enfim, complicada com a lei, é sinal de inversão de valores. A zombeteira celebração do inegável enfraquecimento da Operação Lava Jato junta, entre outras figuras notórias, o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Lula e o senador Renan Calheiros.

Seria de se perguntar a esses e outros senhores e senhoras ora investidos na condição de arautos da moralidade se quando as coisas no terreno da impunidade corriam frouxas o estado de direito estava sendo devida e amplamente respeitado.

Em tom de brincadeira e falando mais a sério no dia seguinte, o presidente falou no “fim” da Lava Jato, colocando-se até como autor da aludida extinção, argumentando que isso aconteceu porque não há corrupção em seu governo. Dois exageros. Primeiro, porque a continuidade ou não da operação não depende dele. Segundo, porque o fato de o tema estar em segundo plano no momento não quer dizer que a corrupção tenha acabado.

Muito menos essas celebrações têm ou terão o condão de apagar a mudança no trato de malfeitorias públicas e privadas ocorrida a partir do julgamento do processo do mensalão, na primeira década do século 21, e seguida pela Lava Jato. A sociedade brasileira hoje é muito menos tolerante e já pôde perceber que nem a impunidade nem a roubalheira de dinheiro público são inevitáveis no exercício do poder político.

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