A participação de Lula no rolo da Fecomércio

thomas Scholze
thomas Scholze

A Operação “E$quema S”, deflagrada pelo Ministério Público Federal do Rio, revelou desvios de 151 milhões de reais da Fecomércio-RJ, SESC e SENAC para escritórios de advocacia. Esses recursos, segundo a investigação do Ministério Público Federal, teriam sido desembolsados para comprar influência em tribunais em Brasília. Entre os 26 denunciados pelo MPF estão os advogados do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin e Roberto Teixeira.  Neste sábado, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu a ação que investiga os advogados da Fecomércio, incluindo os defensores do ex-presidente.

Lula pode ajudar a esclarecer uma parte desse mistério. O ex-presidente teve dois encontros com Orlando Diniz, que lutava para não deixar o comando da Fecomércio — um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Em ambos, intermediados pelos advogados dele, ouviu as reclamações do empresário sobre uma fiscalização que tinha petistas importantes no comando.  O ex-presidente, segundo uma testemunha que participou das duas reuniões,  disse que o caso seria resolvido.

O primeiro encontro com Orlando Diniz foi no hotel Copacabana Palace, em 2013. Lula tinha acabo de participar do lançamento do Mapa Estratégico do Comércio. O ex-presidente  chamou Orlando na suíte presidencial e ouviu as reclamações do empresário, que se dizia perseguido por Carlos Gabas, então ministro da Previdência do governo Dilma e que, com o membro do Conselho do SESC, investigava a Fecomércio. “Força, menino, isso tem jeito, você vai sair disso. Estamos juntos”, disse Lula a Orlando, segundo a testemunha dos encontros.

O segundo encontro entre Lula e Orlando Diniz ocorreu em São Paulo, em 2014,  na casa do advogado Roberto Teixeira.  “Estou sabendo de toda a confusão lá na Fecomércio, mas isso se resolve”, disse Lula a Orlando Diniz.  A testemunha que acompanhou o encontro conta que o ex-presidente endossava “a proteção” que Zanin e Teixeira prometiam a Orlando Diniz.

De um lado, o petista Carlos Gabas pressionava. Do outro, os advogados prometiam solução. “O Gabas pressionava de um lado, mas os advogados do PT, com o endosso do Lula, extorquiam o Orlando do outro lado”, afirmou a testemunha dos encontros.

Álbum de família: Zanin e Orlandodivulgação/Divulgação

Em delação premiada,  Orlando Diniz revelou que Roberto Teixeira “ofereceu como serviço a solução da briga política com Carlos Gabas, obstacularizando a fiscalização do Conselho Fiscal do Sesc”.

O ex-presidente da Fecomércio pagou 10 milhões de reais ao escritório de Teixeira. Carlos Gabas refuta as acusações. Ele nega que tenha “abafado” a fiscalização. “Recebi Roberto Teixeira, mas junto com Orlando e na presença de outros conselheiros”, diz ele. Gabas afirma que o Conselho do SESC  foi o responsável alertar os órgãos de fiscalização sobre as irregularidades na Fecomércio: “Ele (Orlando Diniz) foi afastado graças ao trabalho do Conselho Fiscal”.

O advogado Cristiano Zanin enviou mensagem a VEJA: “Jamais participei ou tive conhecimento de qualquer encontro do sr. Orlando Diniz com o ex-presidente Lula. Minha atuação foi estritamente como advogado, atuando na defesa dos direitos da Federação do Comércio do Rio de Janeiro em um litígio judicial de elevada complexidade com uma entidade congênere”. O advogado Roberto Teixeira e o ex-presidente Lula não se manifestaram.

 

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