Na mansidão das reformas, Guedes parte para a articulação política

thomas Scholze
thomas Scholze

A semana começou agitada para o ministro da Economia, Paulo Guedes. Apesar de cabeça dura e explosivo, de acordo com auxiliares, Guedes não é de guardar rancor. O ministro sabe que, por ora, a agenda de reformas está estacionada, graças às eleições municipais e à necessidade da classe política de se articular em torno dos pleitos locais. Sem a necessidade de explicar os detalhes técnicos das complicadíssimas soluções em torno do Renda Cidadã e da reforma tributária, Guedes começou a semana fazendo política. A ausência do ministro na reunião com o relator do Orçamento no Senado, Márcio Bittar (MDB-AC) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), junto ao presidente Jair Bolsonaro causou estranheza, mas auxiliares do chefe da Economia e membros da base aliada do presidente no Congresso Nacional garantiram a VEJA se tratar, apenas, de estratégia. Guedes não seria necessário no bate-papo já que as tecnicidades do Orçamento já foram passadas aos senadores e à equipe de articulação política do governo, delegada ao ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos e ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

A reunião pela manhã no Palácio da Alvorada apenas abordou estratégias para buscar as aprovações desejadas pelo governo. Guedes corre por fora. Logo depois do papo, sentou-se virtualmente com Bittar para alinhar os ponteiros. O ministro e o parlamentar ratificaram o compromisso com o teto de gastos, mesmo em face dos desejos do presidente em torno de um programa de renda básica. “É como um sapateiro. Sempre que se compra um par novo, tem de jogar fora alguns pisantes velhos para caber no armário”, diz um auxiliar do ministro. Na paralisação das articulações em torno de votos para a agenda econômica do governo, algo visto como difícil no momento atual por membros da Economia graças às eleições que se aproximam, Guedes recorre à “turma do deixa disso” para divulgar seus dogmas junto à classe política. Por isso, aceitou que o ex-senador Renan Calheiros articulasse um encontro entre ele e o êmulo presidente da Câmara.

Uma preocupação expressa do ministro no campo da política passa pela rivalidade com Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional. Bom articulador no Congresso e benquisto entre os parlamentares, Marinho tem atuado para a liberação de recursos para obras pelo país — Guedes, no entanto, sente que essa postura pode ir contra a política de responsabilidade fiscal do governo, o que gera um impasse entre as pastas. Na semana passada, Marinho teria criticado o chefe da Economia em uma reunião privada — para a fúria de Guedes. “Eu não acredito que ele tenha falado isso”, explicou. “Se falou, já pode saber: é despreparado, é desleal e confirmou que é um fura-teto, mas eu não acredito que tenha falado”.

Na leitura de executivos do Ministério da Economia, a estratégia de Marinho em oposição a Guedes envolve necessidades eleitorais do ministro do Desenvolvimento Regional e a mágoa por não ter sido reeleito deputado federal nas últimas eleições — algo atribuído por Marinho ao protagonismo e sua forte atuação na aprovação da reforma trabalhista, da qual fora relator ainda no governo de Michel Temer. Presente no encontro entre Maia e Bolsonaro na manhã desta segunda-feira, auxiliares de Marinho disseram que não há, até então, reunião prevista com Guedes e com o presidente Bolsonaro para acalmar os ânimos, já que acreditam que isso irá acontecer normalmente até o fim desta semana. Por enquanto, os ministros seguirão agendas distensivas. Resta saber até quando.

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