A carta branca de Paulo Guedes a Renan Calheiros

thomas Scholze
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Um nome que estava esquecido em torno das articulações pela agenda econômica do país está de volta. Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente do Senado, assumiu as rédeas para aplainar as relações entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em briga aberta pelo protagonismo do andamento das reformas estruturais. Há duas semanas, Calheiros, junto à senadora Kátia Abreu (MDB-TO), procurou o ministro para pedir seu aval para estreitar as relações com Maia. Os emedebistas receberam carta branca de Guedes para procurar Rodrigo Maia e articular um encontro entre os dois. Maia aceitou o convite para um jantar, feito por Renan Calheiros, na casa do ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU) nesta segunda-feira, 5. A agenda dos principais envolvidos no imbróglio envolvendo o Renda Cidadã, a reforma tributária e o teto de gastos está agitada no início desta semana.

Relator do Orçamento no Senado, Márcio Bittar (MDB-AC) encontrou-se com o presidente Jair Bolsonaro pela manhã, em uma reunião com Maia no Palácio do Planalto. O bate-papo foi arquitetado para tentar emplacar uma alternativa de recursos, dentro dos ditames de responsabilidade fiscal, para o pagamento do programa social desejado por Bolsonaro. O problema, é claro, seria a ausência de diálogo com o principal responsável pela agenda do país, por isso o aceite de Maia ao convite de Calheiros para o jantar com o ministro da Economia. Guedes e Maia vêm se bicando há tempos e as relações passam por altos e baixos. “O presidente da Câmara e o chefe da Economia não podem brigar, é uma relação de perde-perde”, diz o senador Renan Calheiros a VEJA. “Precisamos dar vazão à agenda de cortes de gastos e de reformas”, completa ele.

Depois de deixar a reunião com os presidentes da República e da Câmara, Bittar encontrou-se (virtualmente) com Guedes e na mesa estão as negociações para pagar o Renda Cidadã. Após o veto do uso de programas como o abono do PIS, desejado pela equipe econômica e de precatórios para financiar o Renda Cidadã, como desejava Bittar, a equipe econômica estuda acabar com a declaração simplificada do Imposto de Renda para bancar o programa.

Causou estranheza, porém, a ausência do ministro no papo no Palácio da Alvorada e o chamamento às pressas para a reunião com o senador. Marcada para às 11 horas da manhã, o anúncio público do encontro fora apenas divulgado uma hora antes. Maia e Guedes não se falam desde pelo menos maio, graças aos desgaste envolvendo as reformas e o protagonismo em torno das medidas de combate à Covid-19. A cizânia começou após o presidente da Câmara pressionar o ministro por ações mais assertivas no combate da crise econômica causada pela pandemia de Covid-19. Com recursos escassos, Guedes lançou o que pôde nas primeiras semanas, mas foi por iniciativa de Maia que saíram duas das principais medidas que permitiram uma manutenção da renda: a PEC do Orçamento de Guerra, que flexibilizou as provisões de recursos e permitiu créditos extraordinários, e a elevação do Auxílio Emergencial para 600 reais, frente à proposta original de 200 reais.

Auxiliares do presidente da Câmara dissertaram que a proibição, por parte de Guedes, de que sua equipe conversasse com o presidente da Câmara partiu de uma crise de ciúmes do ministro. Membros do Ministério da Economia argumentam, como o próprio ministro já revelou publicamente, que a orientação para que seus secretários e assessores evitassem o diálogo com o deputado seria para afunilar a articulação em torno da pauta econômica, já que, agora, o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), debruçam-se sobre as tratativas. Na avaliação da Economia, o diálogo melhorou com a troca do ex-líder Vitor Hugo (PSL-GO) por Ricardo Barros, considerado mais experiente. A noite promete. Se Maia e Guedes, que podem acumular discordâncias nos detalhes, mas são entusiastas da agenda de reformas, acertarem-se no encontro, o maior beneficiado pode ser o Brasil.

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