Caixa de surpresas

thomas Scholze
thomas Scholze

A indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal trouxe várias novidades em relação ao modo de o presidente da República encarar a Corte. Em primeiro lugar, o abandono do voluntarismo que no início do governo fez Jair Bolsonaro acreditar que a eleição lhe conferira poderes absolutos, inclusive o de nomear o filho Eduardo para a embaixada brasileira nos Estados Unidos.

Dessa nova visão decorreu o arquivamento (temporário?) da ideia de pautar a escolha por critério religioso. Se ainda pretende mesmo, conforme já avisou, indicar alguém “terrivelmente evangélico”, preferiu deixar para a próxima quando, talvez, já tenha uma situação mais acolhedora no Senado. Agora optou pela prudência de escolher alguém previamente bem aceito nas variadas correntes políticas representadas na Casa.

Além do manejo político da escolha, Bolsonaro teve o cuidado de medir a temperatura do STF indo ao ponto de comprometer publicamente dois ministros (Gilmar Mendes e Dias Toffoli) com o nome do desembargador. Ao fazer ele mesmo a escolha antecipada, convenhamos, uma descortesia com o ainda decano Celso de Mello, assumiu a condição de padrinho primordial da indicação, para não dizer dono exclusivo. Se isso se refletirá nas decisões de Kassio Nunes no tribunal é história a ser contada a partir do momento em que ele assumir.

Bolsonaro desagradou aos fiéis que reclamam de posições e amizades do desembargador? Desagradou, mas não tem a menor importância exatamente pelo fato de os queixosos serem fiéis.

Leia nesta edição: os planos do presidente para o Supremo. E mais: as profundas transformações provocadas no cotidiano pela pandemiaVEJA/VEJA
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